Oi.
A Irlanda é legal. Todo mundo diz que o clima é ainda pior que na Grã
Bretanha, mas até agora tá fazendo sol. Só porque eu falei isso vai piorar,
quer ver. Aliás, eu to com a minha mãe e a gente chegou dia 15, sexta, a noite.
É half term na minha escola em Chichester, ou seja, tenho uma semana de férias,
portanto cá estou. Na Irlanda.
Acho que tem gente que não sabe que a Irlanda é dividida em duas. Tem a
Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, e a Republica da Irlanda, que
se tornou independente em 1921. A do Norte é protestante, e a república é
católica. Quer dizer, mais ou menos. Mais tarde eu volto a falar disso.
Então eu quero falar sobre o que eu fiz nesses quatro dias em que estive
aqui. Preciso escrever hoje mesmo se não eu esqueço, e não quero esquercer nada
disso.
Antes de mais nada, gostaria de dizer que não me acho nenhuma
especialista em nada que eu falar a seguir, estou meramente repetindo o que me
foi dito, portanto...é. Se quiser acrescentar ou corrigir alguma coisa que eu
diga, sinta-se a vontade. Tenho certeza que vou falar alguma coisa errada,
porque esse lugar é confuso demais.
ENTÃO, sobre a Republica da Irlanda. Dublin em particular. Todas
as placas estão em inglês e em gaélico irlandês, que aparenta ser uma língua dificílima
que a maioria das pessoas nem fala direito. A moeda é euro.
O farol de pedestre tem sinal amarelo. Assim: verde (pode andar),
amarelo (corre que tá fechando) e vermelho (não passe). Achei super divertido.
O sotaque é bem peculiar. Na minha opinião, é uma mistura de americano
com escocês, mas tem umas coisas particulares (tipo, eles colocam o som
"shh" em quase tudo). O da Irlanda do Norte é simplesmente incompreensível.
Quando estavamos no aeroporto, esperando o onibus que vai pra cidade,
umas meninas irlandesas viram uma limusine passando e berraram:
"OH MY GOD IS THAT JUSTIN BIEBER?"
Daí sairam correndo atrás da limusine. Uma americana que tava ali do
lado disse:
"Oh yeah, certainly guys. That's
him"
Então eu fui pesquisar o tour do Justin Bieber pra ver se ele realmente
estava vindo para cá, porque estava preocupada com o nível de estupidez
daquelas meninas, como se qualquer limusine na rua fosse ter o Justin Bieber
dentro. Mas não. Ele fez um show aqui em
Dublin dia 17. Não acredito que perdi. Que pena.
Então, vejamos os lugares que já fomos aqui em Dublin:
Trinity College, fundado pela querida Rainha Elizabeth I e um dos mais
prestigiados da Europa.
Templebar, um bairro onde você vai party hard.
O'Donoghue Pub, que é um pub super famoso onde tem música tradicional irlandesa toda noite, e onde a banda The Dubliners começou tocando. Ele é uma gracinha.
St Stephens' Green, que é um parque bacana.
Grafton Street, que é uma rua legal cheia de loja e artista de rua.
Merrion Square, que tem um parque no meio com uma estátua do Oscar
Wilde, porque ele morou ali do lado.
Dublinia, que é um museu divertido sobre a era Viking e a Idade Medieval
na Irlanda. Tem um viking fazendo cocô:
Christ Church Cathedral, onde foram filmadas umas cenas de The Tudors e
onde há um café na cripta.
E mais uns lugarezinhos não tão interessantes. Tipo o lugar onde os
vikings ficaram quando chegaram aqui na ilha. Parece legal, mas na verdade não
tem nada pra ver. Só grama.
Dia 17 foi divertido, porque fomos fazer um tour de ônibus que saiu de
Dublin às 6h30 da manhã, o que não foi legal, e ia até o extremo norte da
Irlanda do Norte, o ponto principal sendo o Giant's Causeway (Calçada do
Gigante), o único patrimônio da humanidade pela UNESCO nas Irlandas.
O passeio todo na verdade foi na Irlanda do Norte. O único sinal de que
a gente atravessou a fronteira foi uma câmera que tinha do lado da estrada. Na
volta até teve um pedágio, mas na ida não. Ah, e apareceram bandeiras da Union
Jack (vide bandeira do Reino Unido).
Aliás, uma coisa interessante é que, dependendo da cidade, aparecem
bandeiras da Irlanda ou do Reino Unido, mostrando o que as pessoas apoiam
naquele lugar; se elas estão contentes em ser parte do Reino Unido ou se querem
se juntar à Republica da Irlanda.
Antes de chegar no Causeway, nós paramos num lugar chamado Carrick a
Rede, que é basicamente uma ponte meio precária feita de corda que liga o
litoral à uma ilhota onde costumavam pescar salmão. A graça do lugar é andar na
ponte e achar que ela vai virar com a força do vento e você vai cair e morrer.
Quando chegamos no Giant's Causeway eu estava morrendo, porque é no
litoral então o caminho é cheio de curvas que me deixaram enjoada. O lugar tem
esse nome por causa de uma lenda irlandesa que criaram pra explicar a pecular
forma das pedras, antes da ciência.
A lenda conta que a "calçada" surgiu das discussões de dois
gigantes, um irlandes e um escocês, que trocavam insultos berrando através do
canal (tem só uns 20 quilometros). O gigante irlandes, Finn MacCool, ficou tão
bravo com o escocês um dia, que resolveu criar uma passagem para chegar até a
Escócia e poder brigar com ele como o macho que era. Então ele criou a calçada.
Mas quando chegou do outro lado, viu que o outro gigante era o dobro do tamanho
dele, aí pensou "Hmmmm, acho que não." e voltou correndo. Mas ele não
teve muita sorte, porque o escocês, quando viu a passagem, começou a
atravessar. Finn entrou em pânico, porque ele sabia que não ia conseguir ganhar
numa briga, mas ele tinha uma esposa esperta. O casal tinha acabado de ter um
filho, e ela rapidamente o escondeu e falou para o Finn colocar uma frauda e
fazer barulhos de "gugu dada" e entrar no berço do filho, o que ele
fez. Quando o escocês chegou, a esposa do Finn falou: "Ah, o Finn já vem,
entre aqui e vamos tomar um chá". Quando ele entrou e viu o berço ficou
espantado,e perguntou quem era. Ela respondeu "É o nosso filho." O
gigante viu aquele bebe enorme, sorrindo beatificamente e fazendo barulhos de
"gugu dada", com as pernas e os braços balançando fora do berço, e
pensou: "Vish, se o filho é desse tamanho, imagina o pai." Então ele
voltou com tanta pressa pra Escócia, que destruiu toda a calçada.
Diga se não faz o maior sentido?
A explicação cientifica não é interessante, então eu não absorvi.
Perdão.
Depois de passar uma horinha brincando nessas pedras divertidas,
começamos a jornada de volta, passando as ruínas do que é considerado o castelo
mais romântico da Irlanda, o Dunluice Castle, que era do clã McDonnell até que
um belo dia no século XVII a cozinha, alguns servos e o jantar despencaram no
mar e eles concluíram que não era uma boa ideia morar num castelo num penhasco
afinal de contas.
Paramos em Belfast, a infame capital da Irlanda do Norte. Sabia que foi
lá que construiram o Titanic? A pouco tempo abriram um museu sobre ele:
Em Belfast, tínhamos a opção de dar um rolê na cidade ou fazer um rápido
tour de taxi para ver a parte oeste da cidade, que foi mais ou menos a parte
central durante o conflito conhecido como The Troubles que tiveram lá por
décadas. Pra quem não sabe, e eu não os culpo porque eu mesma não sabia, do fim
da décade de 60 até o fim da década de 90, Belfast era repleta de
terroristas, polícia e helicópteros.
Eu não sei o que exatamente foi o estopim dessa guerra, mas creio que
basicamente era o seguinte: os católicos não estavam satisfeitos em morar num
país protestante, seguindo regras e obedecendo protestantes que faziam tudo
para favorecer os outros protestantes. Eles queriam se juntar à Republica da
Irlanda, mas os protestantes obviamente queriam continuar a ser parte do Reino
Unido. Eu digo “queriam” mas creio que ainda querem. Um tratado de paz foi
assinado em 1998, mas eu não tenho certeza do que ele dizia. Alguém?
Sabe quando eu disse que dependendo da cidade, bandeiras da Irlanda e do
Reino Unido são içadas? Pois bem, em Belfast depende do bairro. Na parte oeste
foi construído um muro chamado de Muro da Paz, num bairro residencial onde
moravam católicos de um lado e protestantes do outro, para que eles parassem de
jogar granadas, bombas e derivados uns aos outros. Dá para ver na imagem abaixo
que tiverem que adicionar partes ao muro original, porque aparentemente as
pessoas conseguiam jogar coisas mais alto do que eles esperavam.
Aliás, dava pra escrever num pedaço do muro.
Você deve estar se perguntando o que eu escrevi. Pois bem, eu contribuí com a minha
sabedoria, para iluminar o caminho de todos que se sentissem tocados pela
aquela tragédia. Preparem-se.
Agora guerras nunca mais acontecerão. De nada.
Não consegui entender quase nada que o taxista/guia falava porque ele
tinha o sotaque mais impossível do planeta, mas deu pra captar que cada lado,
quando um acordo foi feito que acabou com o conflito, pintou, desenhou,
esculpiu, colou, enfim, fizeram memoriais de seus respectivos heróis. No lado
protestante a parede lateral de várias casas são pintadas, e cada uma delas tem
uma história. Uma delas mostra um homem que uma vez, como presente de
aniversário para um amigo dele, assassinou uma católica que trabalhava numa
farmácia. Aliás, aqueles que eram "executadores" usavam uma corrente
de ouro no pescoço. Status.
Aqui tem uma das paredes do bairro protestante:
E uma do lado católico:
O lado católico é ligeiramente mais arrumado, e tem um pequeno memorial
com as pessoas que morreram. Também tem várias paredes com pinturas.
Por enquanto é só, senhoras e senhores.
Por enquanto é só, senhoras e senhores.
Bem legal Juju. Uma bela aula de história e finalmente notícias. Bjo!
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